literatura

Sopa de Letrinhas: Sobre Homens e Lagostas

26.09.2016

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Mais uma aventura no desconhecido: comprei o livro Sobre Homens e Lagostas, escrito pela Elizabeth Gilbert. Foi o primeiro romance dela e foi escrito lá pelas bandas de 2000 com o título original “Stern Men”.
Essa capa foi pra mim irresistível … aliado a esse nome intrigante, me rendi ao apelo promocional que se encontrava o livro. Arrematei numa dessas super promoções virtuais. 

Eu não sabia nada sobre o livro. Comprei no escuro, familiarizada com apenas um detalhe na capa do livro – um pequeno círculo no canto que indicava ser  da mesma autora do livro “Comer, Rezar, Amar”. Aliás, livro este que eu também nunca havia lido .. nem mesmo visto o famoso filme … mas sabendo que a autora fizera sucesso com a obra, resolvi arriscar no livro-irmãozinho desconhecido (até então para mim pelo menos).

Em Portugal ele foi lançado como Filha do Mar e pode ser encontrado em livrarias brasileiras também. Então cuidado na compra ! A história é a mesma; já a língua, embora similar, não é o nosso português brasileirinho.

Mas vamos aos fatos: começo já alertando que minha compra foi acertadíssima. Inesperada e maravilhosamente acertada. Se eu lesse a sinopse do livro, eu com certeza não teria despertado para a história … nada de especial pra chamar muito minha atenção: 

“Em Sobre homens e lagostas, romance de estreia de Elizabeth Gilbert, a autora do best-seller de explora o universo das comunidades que se beneficiam da pesca lagosteira no litoral do Maine, nos Estados Unidos. Os habitantes das ilhas de Fort Niles e Courne Haven são inimigas há décadas, e os lagosteiros locais sempre estiveram em pé de guerra. É nesse mundo que habita Ruth Thomas, a jovem heroína deste livro, que poderia ter escolhido uma vida de luxo e privilégios por ser herdeira da rica família da mãe. Mas é o mundo bruto do pai e dos pescadores onde ela cresceu e escolheu viver. Principalmente depois de conhecer Owney Wishnell, jovem aspirante a pescador, de personalidade reservada e porte atlético, e um dos maiores inimigos de seu pai. “
Aliás, essa é a uma sinopse simples que vi em algumas livrarias. Outras elaboram melhor a história, e falam, falam, falam … contam coisas que acontecem lá no final do livro ! Por isso eu odeio ler sinopses !! Eu não leio nem mesmo as orelhas ou contra-capas quando meu faro pra o livro é bom. Quero ir para a história com o mínimo conhecimento possível sobre o desenrolar dela. 
Mas pra minha surpresa o livro é incrível. Não é um livro com histórias mirabolantes para serem contadas … mas a leitura é tão agradável que nos traga imediatamente pra essência daquelas ilhas, pro entendimento da alma daqueles moradores, nos faz submergir no coração cheia de dúvidas da personagem principal, Ruth.

Eu particularmente me identifiquei muito com Ruth – cheia de angústias, desamparo, incertezas sobre o próprio futuro. Ruth sabe o que quer mas ao mesmo tempo está totalmente perdida. Aliás, acho que ela não tem nada da heroína anunciada na sinopse das livrarias. Ela parece tão frágil e sem futuro.
O livro narra dias comuns de uma moça moradora de uma ilha povoada por pescadores de lagostas. O dia-a-dia é trivial, no entanto há um encantamento em toda a cena, tudo é muito pitoresco. Me senti sugada pela história. Não gosto de histórias arrastadas mas é bom saber que a narrativa do livro é lenta – mas ainda assim é envolvente, o que não me deixou entediada em nenhum momento.
Na história, Ruth está cheia de conflitos – ela poderia sumir daquela ilha onde todos os dias são iguais, com uma população tão pequena, sem possibilidades de crescimento profissional exceto pescar lagostas ou ser mulher de um pescador de lagostas. Mas não é sumir dali que ela quer … Ruth se sente atraída ao local, se sente ligada à ilha e quer ali permanecer. Mas não consegue se imaginar entrando naquela roda viva de ajudar na pesca de lagostas e prosseguir com o dia-a-dia de guerra por territórios de pesca que é travado entre os pescadores.

O livro tem uma essência pura mas é carregada de fortes personagens. Não porque tenham força na personalidade mas pela peculiaridade das suas trajetórias. A própria Ruth não teve uma vida comum … foi abandonada criança pela mãe, é herdeira de uma rica família mas vive parte da vida de favores na casa de uma vizinha .. e quando em casa, é frequentemente ignorada pelo próprio pai. A vizinha que ajuda Ruth, dona Pommeroy, é uma dona de casa comum mas tem também características muito interessantes. Rodeada de filhos barulhentos, ela é fantástica para Ruth, o que me faz gostar muito dela.
Fiquei bastante surpresa quando li resenhas criticando muito o livro. Muita gente não gostou. Alguns odiaram. E eu ? Fiquei absorta na leitura logo nas primeiras páginas … concordo que o início, quando relata a história da inimizade entre as duas ilhas, é meio enfadonho … mas logo percebemos que aquela história é pano de fundo pra toda estrutura de vida que cursa nas ilhas. É importante pra entender o por que dos personagens serem como são. E eu adorei a sacada de iniciar capítulos com pequenos trechos descrevendo sobre o comportamento das lagostas e particularidades técnicas sobre a pesca delas. É apenas uma brincadeira oras ! Mas teve quem não gostou. Eu amei !!! 
Ahh e além da história ter me prendido, o mais interessante é que a história ruma pra acontecimentos surpreendentes. Fui pega totalmente de surpresa. Li com muito prazer e já me encantei com a escritora. Acho aliás que esse livro merece também virar um filme … não vi o outro inspirado no best-seller dela, mas lendo este livro consigo imaginar todas as cenas transformadas num longa maravilhoso. 
Não há muito mais o que falar. Não quero cometer o erro de falar demais. Leiam e deliciem-se. A monotonia dessa ilha vai te envolver e você se pegará devorando as páginas antes que se dê conta … fica fácil entender porque Ruth tem tanta dificuldade em deixar aquele lugar.

E era isso, fico por aqui e até a próxima. E pra quem curte o Resumão do Livro, cá está ele:

Que livro ? Sobre homens e lagostas
 
Quem escreveu ? Elizabeth Gilbert
 
De que ano é? 2000

E a editora ? Alfaguara
  
Qual o assunto do livro ? Conta a história de Ruth, uma moça cercada pela simplicidade da vida numa pequena ilha repleta de pescadores de lagosta. Ruth se vê numa encruzilhada, tendo que definir sobre seu futuro. Enquanto isso passa seus dias se arrastando pela ilha na companhia de figuras pitorescas que lá moram . 
E que tal a linguagem e a leitura  ? De fácil leitura, tende a ser mais lentificada, com com uma narrativa compassada e sem grandes turbulências. Os capítulos são de medianos a longos, mas com sub-capítulos,  o que facilita a leitura. A narrativa é lenta, mas há um tom ameno mas ao mesmo tempo descontraído. Eu achei a leitura gostosaO livro ruma pra um desfecho bem inesperado e talvez a rápida mudança final no compasso choque alguns leitores desavisados. Pra mim particularmente não foi um problema.

Mais pra dinâmico ou cansativo ?  Não é cansativo, mas não é dinâmico, pelo contrário … a vida pacata dos moradores acaba impregnando a leitura. Mas se o dia-a-dia dos personagens é arrastado, suas histórias de vida são tão peculiares que pra mim toda a narrativa foi interessante. A parte um pouco mais maçante é o início do livro, mas ainda assim eu acabei me envolvendo nele rapidamente.  

Recomenda ?  Com certeza. Amei. Mas leia sem grandes expectativas. Prepare-se para uma leitura sem grandes pretensões, mas ao mesmo tempo agradável e cheia de particularidades em cada personagem. De preferência não leia o sumário e nem o “copia e cola” de resenhas que vi por aí: muita gente repetiu o jargão de que a personagem é uma coisa que está longe da realidade da sua postura ao longo do livro, o que irritou alguns leitores.  Se jogue no escuro e terá grandes surpresas. 

Comentários


MARLO

dezembro 30th, 2019 as 23:45 (#)

Passeando pela internet, vi que sua resenha sobre esse livro foi uma das poucas com as quais consegui me identificar. Também adorei o romance, tanto quanto você, e também fiquei surpreso ao ver que muitas pessoas não gostaram. Minha hipótese é que essas pessoas foram enganadas pela péssima sinopse da edição da Alfaguara Brasil – uma sinopse que entrega um elemento que é revelado apenas no epílogo, e que promete uma arrebatadora “história de amor” que nem de longe é a coisa principal da trama.

Quem lê a sinopse espera um romance teen água com açúcar, e na verdade o livro é bem mais maduro e complexo que isso.

Parabéns pela resenha, transpareceu o seu deleite com o livro. Me vi nela. Abraços!


Paty Martinez

janeiro 8th, 2020 as 11:20 (#)

Marlo, é por essas que eu evito as sinopses. Eu curto ler elas depois que já li o livro. Quem mais faz isso ?? haha .. bom, pelo visto encontrei um companheiro de leitura que faz isso.
Bom, mas eu curto ler depois pra captar nelas coisas que não percebi na minha leitura. Essa troca de percepções é muito legal !
E realmente, é incrível que a autora extraia tanta complexidade de um cotidiano tão trivial, uma história que poderia parecer tão simples para alguns. Longe disso.
Obrigada pela sua passagem por aqui !

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