Enquanto ainda lia “A Culpa é das Estrelas”, me deparei com este livro nas prateleiras da Nobel e logo me interessei: “A Estrela que nunca vai se apagar” revela muito sobre a história de Esther Grace, a garotinha que encantou John Green e o inspirou a escrever o livro A Culpa é das Estrelas.
Em primeiro lugar é importante saber que o livro A Culpa é das Estrelas é uma obra de ficção. A garota do livro tem poucos pontos em comum com Esther Grace. E logo que você começa a leitura de “A estrela que nunca vai se apagar” você se dá conta disso, que não se trata de um romance, ou uma história bonita, cheia de humor ácido e contagiante. Acho uma importante literatura principalmente para retirar a impressão romanceada que A Culpa é das Estrelas deixa sobre como seria para um adolescente viver com câncer.
Já o livro “A Estrela que nunca vai se apagar” pende para o auto-biográfico. De fato, é acima de tudo escrito pela própria Esther Grace: tomado de cartas, narrativas, fotos; boa parte destes de Esther mas com alguns textos de outras pessoas da sua família e amigos virtuais. Através do livro, é possível conhecer o desenrrolar das mudanças drásticas que aconteceram na vida de Esther desde o diagnóstico até seu desfecho final. Até depois dele aliás.
Na minha resenha de A culpa é das Estrelas eu menciono sobre como a personagem fictícia Hazel é muito mais que o câncer, e vive cheia de conflitos adolescentes. Em “A Estrela que nunca vai se apagar” fica claro que as mazelas e crises existenciais típicos de adolescentes se desenrrolam numa via paralela na vida de Esther … é claro que eles existem, mas são “ficha pequena” perto dos seus problemas de saúde: o câncer toma o cenário principal, permeia seu dia, define o futuro da sua família (sobre por exemplo onde viver), transforma seus dias, limita muito toda sua vida.
“A Estrela que nunca vai se apagar” me tocou muito pois me mostrou o quanto Esther precisava conversar, nem que fosse com seu próprio diário. A necessidade de desabafos. O medo frequente. A incerteza. A necessidade de se sentir presente na memória das pessoas, utilizando de diversos meios para conseguir deixar dito parte dos seus sentimentos pelas pessoas e pela vida, mas principalmente pelas pessoas. As longas cartas para os pais mostram um pouco disso. Os vídeos no youtube. Uma garota doce e comum, mas que com certeza era muito extraordinária, por ter conseguido reunir tantas pessoas a sua volta, ainda que virtualmente.
Esther não frequentava a escola e passava muito tempo na internet. Estava ligada a comunidades virtuais voltados aos fãs do Harry Potter e foi através desses grupos e também do seu canal do youtube que ela passou a se manter conectada com diversas pessoas. Isso acabou se tornando uma importante fonte de apoio para Esther. Foi através desses grupos também que ela acabou conhecendo John Green (autor de “A Culpa é das Estrelas). Mas nada era tão sólido e forte como o suporte familiar recebido por Esther.
O livro não poderia deixar de ser triste. É realmente comovente, e pra mim, que trabalho diretamente com pessoas com câncer, achei a leitura mega válida pra entender melhor alguns pontos relativos a maneira como o câncer pode afetar a vida e perspectiva das pessoas. Ao mesmo tempo é um lindo trabalho realizado pelos seus pais, Lori e Wayne, que tiveram a força pra reunir todos esses pensamentos e textos familiares tão íntimos.
Na internet ainda é possível encontrar vídeos da Esther no Youtube. E no site
TSWGO (iniciais para a tradução “esta estrela nunca vai se apagar”) você encontrará conteúdo exclusivo postado pelos própria família da Esther.
Que livro ? A Estrela que nunca vai se apagar
Quem escreveu ? Esther Grace e seus pais Lori e Wayne Earl
E sobre o que é ? Auto-biografia, recheada de textos, cartas, relatos, desenhos e outras criações de Esther Grace Earl. Alguns textos de familiares e amigos também serão encontrados. Esther descobriu-se com câncer de tireóide na adolescência, quando já havia metástase pulmonar. A partir de então sua batalha pela vida começou. Sua vida e de sua família se transformaram. Mas a fé esteve sempre presente e ela nunca deixou de transbordar amor pelas pessoas. Esther não se encolheu com a doença, não se agarrou a auto-piedade. Com bravura enfrentou seus medos. Mesmo quando nem sabia como enfrentá-los. Simplesmente seguiu em frente até onde conseguiu.
Empolgante ou Monótono ? Nada monótono. O livro é bem dinâmico e o fato de ser recheado de textos de diários, cartas, etc, faz com que o livro tenha um ritmo salteado, onde as lembranças e fatos vão surgindo a medida que estes eram registrados ao longo da vida de Esther. Ilustrativo, as fotos e desenhos pessoais de Esther criam uma atmosfera de ainda maior proximidade com ela.
E a linguagem ? Fácil e acessível.
Recomenda ? Depende. Poderia ser uma leitura interessante para todos que lidam com pacientes que enfrentam essa triste doença. Também para desmitificar algumas coisas do livro de John Green. Mas quando se trata de familiares e amigos de pessoas que lidam com esta triste doença, antes é preciso entender que as pessoas reagem diferentemente a um câncer. Muitos são os tipos, muitas as áreas afetadas, e ainda que o mesmo, sobre o mesmo local, os desfechos são diferentes. As reações físicas e emocionais também variam muito. Lembrando que muitos vão se salvar. Muitos vão evoluir bem por muitos anos. Tá, mas há também os fins difíceis e tristes. O importante é se ater as mensagens de fé de Esther. Entender seu coração. Aprender mais sobre como muitas vezes um doente de câncer pode estar precisando de um espacinho de escuta. Mas saiba que é acima de tudo um livro triste.
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