literatura

Sopa de Letrinhas: Quase Noite (Alice Sebold)

21.04.2016

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Hoje tem resenha de um livro que comprei neste último verão num sebo de Balneário Camboriú: chama-se “Quase Noite”. E foi mais uma daquelas aventuras, de comprar um livro sem saber praticamente nada da história. Mas o que me motivou mesmo na compra foi a autora: Alice Sebold. Já ouviram falar dos livros dela ? 
Bom, eu já li dois livros dela e os temas são massacradores.
Nestas minhas leituras anteriores da autora o tema central de ambos os livros era a violência sexual. Enquanto “Uma vida interrompida” conta a história de estupro e assassinato de uma jovem de 14 anos, “Sorte” narra o estupro sofrido pela própria autora, Alice, quando tinha 18 anos. Ou seja, já sabe que a autora mexe com temas viscerais e tem propriedade pra falar do assunto neste caso, já que ela própria foi vítima dessa violência.
E Alice Sebold não tem meias-palavras – sua intenção é mesmo chocar seu público. Com temas fortes, do tipo que representam verdadeiros “socos no estômago”, a carga emocional que estas histórias carregam é gigantesca.
E nesta nova obra, Alice navega por novas tragédias. “Quase Noite” retrata os dramas de uma mulher que mata a própria mãe, já senil e demente. Ahhh, e que fique claro: assim como os outros livros que mencionei de Alice, não estou fazendo “spoiler” não: cada um desses eventos catastróficos é revelado logo no início do livro e serve de contexto para toda a história. Em “Quase Noite”, a autora revela que assinara a mãe já na primeira frase do livro. 
“Quase Noite” é todo escrito em primeira pessoa, dando-nos uma surpreendente ótica dos fatos, já que é todo narrado pela própria assassina. Muitas surpresas ocorrem que nos fazem entender que aquele ato extremo, que pareceu inicialmente decorrente apenas de muito cansaço e loucura momentânea, tem na verdade muitas nuances e histórias passadas por trás. 
Confesso que o terço inicial do livro foi meio cansativo. Achei uma leitura arrastada, sem propósito, com precário nexo nos pensamentos e atitudes da protagonista. Embora Helen estivesse realmente muito confusa após todos os acontecimentos .. a leitura não precisaria ser confusa pra retratar isso. E apesar da história legalzinha, de alguma forma não me conquistava. Talvez porque eu estava com muita dificuldade de aceitar todos os eventos até então. No entanto, quando a protagonista, Helen, começa a revelar mais e mais coisas do seu passado é que a história começa a tomar uma forma mais interessante. De repente você quer entender cada vez mais o que se passa na cabeça da protagonista … de repente você se pega entendendo algumas de suas atitudes… mesmo sendo contra todas elas. E o melhor … a partir do meio do livro o suspense toma conta pois cada vez mais já não sei que rumo realmente a história vai tomar. E se tem algo que realmente me motiva são histórias com desfechos incertos e que eu realmente PRECISO ler pra saber como tudo irá cursar. 
O que posso antecipar é que você vai descobrir neste livro uma relação bastante complexa e inquietante entre mãe e filha. Vai se pegar se colocando no papel da filha e tentando entender como teria sido lidar com tais problemas que ela lidou no passado. Por alguns momentos talvez você entenda a loucura. Eu particularmente entendi muito dela, mas apenas discordei mais e mais das formas como ela resolveu lidar com toda essa situação. 
O assassinato da mãe de Helen não é premeditado. Não é um acidente. Ele ocorre de uma forma quase intuitiva, como forma de auto-preservação da própria sanidade da Helen. Não parece correto em nenhum momento mas … estar inserida dentro da mente de Helen facilita tanto enxergar tudo de uma ótica um pouco mais fria, como ela mesmo foi ao longo da história. Mas ao mesmo tempo que ela se comporte como uma pessoa sem moral nem remorso, suas memórias e conflitos internos acabam se tornando um ponto cada vez mais relevante na história e chega um momento que você tem dúvidas sobre se poderia se esperar outro desfecho que não a falta de sanidade em toda a família.
E o desenrolar da história se dá nas 48 horas pós assassinato. Helen mata sua mãe e agora tem um corpo no seu porão …. além da questão técnica de resolver a situação do cadáver, ela ainda precisa encontrar meios pra lidar com sua própria família e com a polícia. Como explicar tudo isso ? Como se esquivar ? Como fugir da curiosidade dos vizinhos ?  Além dessas questões técnicas, nessas 48 horas haverão muitas memórias afloradas sobre o passado de Helen. O livro é um ir-e-vir de emoções.
Sugiro a leitura para aqueles que gostam de livros com temas sombrios e polêmicos… se de início não é tão interessante, após aquele um terço inicial ela se torna melhor, mas no terço final parece imprescindível saber o desfecho. Talvez no início você queira julgar muito a Helen … depois de um tempo tudo que vai querer saber é quantos motivos mais ela teve pra ser tomada por aquele momento de loucura e como ela vai por fim lidar com isso. 

O livro é bacana. Assim como os outros livros de Alice Sebold, tem leitura fácil, dinâmica, forte narrativa e muitos diálogos. Eu particularmente não gosto muito de livros com excesso de diálogos, prefiro autores que trabalham melhor as narrativas e descrições mas … não foi uma leitura difícil depois que peguei o embalo.

Leia com cuidado se você tem sérios problemas de relacionamento com a loucura. Não que eu pense que você vai matar alguém depois da leitura mas … talvez você tenha gatilhos disparados e que te favoreçam o desenvolvimento de sofrimento ao se defrontar com personagens com histórias de vida tão complexas. Enfim …. o mesmo conselho que dou para qualquer pessoa que vá ler os outros livros da Alice. 
Mas eu aprovei a leitura. Poderia ter uma narrativa melhorada mas aprovei. 
Até a próxima ! Bjkinhas de Pimenta. 
Que livro ? Quase Noite
Quem escreveu ? Alice Sebold

E a editora ? Agir

Do que se trata? O romance conta sobre os momentos dramáticos vividos por Helen, que logo ao inicio do livro revela ter matado sua própria mãe.

Uma frase? “No final das contas, matar minha mãe foi bem fácil”. É assim que o livro começa e já revela que estamos prestes a nos deparar com uma protagonista cujas moralidade e compaixão não andam em boa ordem.
 
É bom ? É razoavel. Não é uma leitura imprescindível, do tipo “não deixe de ler”. Resumiria como uma leitura bacana. Eu, como fã de histórias que mexem com o emocional, sou mais partidária de enquadrar como uma leitura interessante.
Fácil de ler ? A leitura  é fluida, com capítulos medianos a curtos. A estruturação do texto é um pouco confusa as vezes, com idas e vindas entre presente e passado, onde em alguns momentos fiquei perdida pra me situar no momento da história em que se encontrava. Particularmente também não me agrada o excesso de falas diretas entre os personagens.
Recomenda ?  Meio termo, se você é do tipo que curte ler de tudo, é uma leitura rápida e que vale a pena pra intermediar entre outras mais densas. Apenas recomendo bastante cautela na leitura para aquelas pessoas que possuem ou convivem com pessoas com transtornos psiquiátricos severos, pois a história pode ser bem perturbadora e deflagrar gatilhos de sofrimento. 

Comentários


Belblioteca

abril 22nd, 2016 as 15:09 (#)

Nunca tinha ouvido falar dessa autora. Parece uma boa leitura.
Percebi que você está lendo "Cem Anos de Solidão", espero que goste porque eu achei maravilhoso!

belblioteca.blogspot.com


Paty Pimentinha

abril 27th, 2016 as 23:03 (#)

Oi Bel, este livro teve esse marasmo inicial mas no final a leitura foi boa, já os outros dela eu gostei de início ao fim. Sim, já finalizei Cem Anos inclusive, não tirei ainda ali da lateral … o livro é maravilhoso mas achei de leitura super difícil, penei pra ler hein … agora não sei se faço resenha ou se faço apòs nova leitura, me programei pra ler de novo de tão complexo que achei … não tenho o hábito de ir anotando ao longo da leitura já pensando nas resenhas e não é algo que sinta falta usualmente, pra Cem Anos, senti falta. Mas o livro é realmente incrível ! bjs

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