literatura

Sopa de Letrinhas: Se eu ficar

25.07.2017

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Escolhi ler o livro Se eu Ficar no último mês já sabendo que se tratava de uma leitura rápida e bem dinâmica. Queria dar uma pausa entre minhas leituras densas de ultimamente (não estou postando pois está rolando muita literatura técnica novamente). Mas ao contrário do que pensei … não seria tão tranquilo .. afinal esse livro é de rápida leitura mas é tão angustiante, tão trágico, tão deprimente …. no final das contas não serve pra intercalar com leituras densas não.

Eu já conhecia bem a história pois já tinha assistido o filme (soube que havia um livro apenas depois que assisti o filme) e tinha achado “interessantinho” o filme. Enfim … um filme meio pegada “sessão da tarde” mas ainda assim … pela temática ser próxima do meu dia-a-dia, achei minimamente interessante. Enfim, um tema que envolve um acidente, morte, quase-morte, luta pela vida, ações de uma equipe multiprofissional em uma uti … obviamente que o tema já fez minhas anteninhas balançarem.

Escrito por Gayle Forman, o livro foi um sucesso. Virou best-seller e acabou virando filme. E teve continuidade. No Brasil também foi bem recebido pelos leitores e pelo público.

Mas pra mim a leitura foi diferente do que imaginei. Eu sempre acho a leitura muito melhor que o filme e desta vez … não sei explicar minha sensação nessa comparação. Mas o fato é que eu tive golpes durante a leitura … antes .. deixa eu explicar a história bem por cima (sem spoiler .. a tragédia que vou contar, já está anunciada logo de cara ok !) pra que vocês entendam do que estou falando: 

Mia Hall é uma típica adolescente americana, vivendo o sonho americano (pais legais, irmãozinho menor companheirinho, amigos legais, namorado dos sonhos, e prestes a ir pra faculdade dos sonhos também) … enfim, como eu disse .. o “sonho americano”. Mas esse sonho é interrompido logo no início do livro onde ela narra sobre o acidente que sofreu com sua família e onde seus pais morrem instantaneamente. Ela e o irmão são levados para o hospital e dali em diante, durante todo o livro, ela passará a vivenciar tudo de fora do corpo: acompanhar toda a dor, sofrimento, insegurança, desespero da família, etc e tal … e claro, o medo de morrer, de perder o irmão, de ficar sozinha .. aquela sensação de desespero total pela possibilidade de ficar só no mundo.

A grande sacada da história, “Se eu ficar”, refere-se a angústia que Mia sente ao tentar imaginar o que seria melhor: morrer ou continuar vivendo nesse mundo sem seus pais ? E ela descobre que talvez ela possa ter o poder de tomar essa decisão … ficar ou morrer ? E é justamente por isso que o título do livro é “Se eu ficar”. E durante todo o livro Mia vai narrando suas lembranças com sua família intercaladas pelos dramáticos momentos da vida real que está vivendo no momento e expressando suas dúvidas sobre como decidir entre ficar ou partir.
Mas então .. que tal o livro ? Como eu disse … foi uma mescla de sensações. Em alguns momentos achei muito forte … angustiante … pior ainda que o filme. Aliás, o filme eu achei até brando perto do livro. Em alguns momentos me parecia uma narrativa fraca e excessivamente adolescente. Ok, era uma adolescente narrando mas … talvez houvesse perfeição demais na narrativa, na vida dela, nas relações familiares …  acho que faltou um pouco de conflito, de loucura, de histórias paralelas. Alternar apenas aquela viva perfeitinha e sonhos sendo realizados com a narrativa de perdas inimagináveis tornavam a leitura uma gangorra as vezes difícil de ser digerida. Isso deixa a gente meio zonzo ao longo da leitura. Ou seja … como eu disse lá em cima … pensei que seria um livro fácil de ler, de leitura límpida e rápida. Me enganei grandemente.  A leitura é fácil … mas a angústia dela me embrulhou o estômago várias vezes, me angustiou e me deixou mal. Talvez porque ultimamente isso me angustie muito também.

Talvez você pense que por eu ser profissional da área hospitalar, habituada a conviver com a morte e o limiar da morte, a dor e o sofrimento … essa história seria uma fichinha. Mas não é. Essa história nos mostra aquilo que tentamos não ver no nosso dia-a-dia. Aquilo que vemos muito pouco, por um véu muito tênue. Porque se pudéssemos ter essa dimensão toda a cada caso de morte que nos deparamos, seria enlouquecedor. Quem suportaria tanta dor ? E outro ponto é que exatamente porque sabemos o quanto a morte é as vezes “fácil” nos torna mais sensíveis ao imaginá-las tão próximas da gente. Achei que a temática mexeu mesmo comigo. Ou eu que estava muito sensível no momento da leitura. Não sei explicar.

Se eu recomendo ? Não me arrependi da leitura mas não leria novamente. Não quero voluntariamente passar novamente por esta angústia. Mas leria sim a continuação (sim, ela existe !). E acho que essa leitura é no mínimo interessante pra pensarmos sobre a vida, refletirmos sobre a dádiva que temos em termos nossos familiares e nossa vida vida tão perfeita, e as vezes reclamamos tanto por tantas pequenas bobagens do dia-a-dia. Mas de qualquer forma não deixa de ser uma leitura bem adolescente. De vocabulário restrito, textos limitados, alguns trechos previsíveis. Não entendi bem porque virou um best-seller pra falar a verdade. Então .. é isso … faça sua escolha.

Que livro ? Se eu ficar
 
Quem escreveu ? Gayle Forman
 
De que ano é? 2009 – 2014 pela Nova Conceito

E a editora ? Novo Conceito
  
Qual o assunto do livro ? Retrata o drama vivido por Mia, uma jovem que sofre um grave acidente logo no inicio do livro e perde parte de sua família neste acidente. Ela se vê entre a vida e a morte numa uti, sua alma vaga pelo hospital e acompanha tudo que acontece com seu corpo, todo o drama dos familiares, e nesse meio tempo ela vai apresentando um vai-e-vem de flashes de lembranças do seu passado perfeito, dos dias com sua família e namorado, do seu envolvimento com a música … e o drama atual. Mia tem uma difícil decisão a fazer: ficar viva no mundo ou morrer ? Esse é o grande questionamento que ela procura responder pra si mesma ao longo do livro. 
E que tal a linguagem e a leitura  ? A linguagem é fácil, escrita fácil, o texto apresenta um vai e vem no tempo entre passado e presente. A narrativa é bem adolescente com um mundinho bem perfeito em volta da jovem. E em outros momentos é bem angustiante e tenso. Isso é natural pois como o livro faz um vai-e-vem no tempo, acaba fazendo um vai-e-vem no estado emocional da Mia, personagem principal. Gera um certo conflito pro leitor também na leitura.
 
Recomenda ?  É muito raro isso acontecer, mas nesse caso eu particularmente gostei mais do filme do que do livro. Acho que tem leituras mais interessantes. Não é terrível mas … tem melhores. De alguma forma esse livro me incomodou. Como eu disse no texto anterior, acredito que me sensibilizou muito e eu não consegui digerir bem o assunto. Apesar que como eu disse, talvez leia a continuação. Talvez. Difícil avaliar. 

 

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